Na foto: Praia de Boa Viagem - Recife - PE, clicada por mim em 25/01/2010

"Quando estou mudo, quero dizer tudo."

.

31 de dezembro de 2022




2022 chegou ao fim. O ano em que a pandemia acabou (só que não). O ano em que a tristeza passou (só que não). O ano em que o amor venceu (só que não. Pelo menos não o meu...). O ano em que não era mais possível ser ainda mais doloroso simplesmente por ser de verdade e não ter medo de mostrar-se por inteira. (Só que não)

Esse não é um texto bonitinho sobre 2022. Porque assim como 2020 e 2021, 2022, pra mim, foi um ano duro. A solidão se apresentou cada vez com mais força e a cada dia com uma face. E não, eu não tô falando (só) sobre o óbvio. 

2022 foi (mais um) ano que eu preferia não ter vivido. Solitário. Seco. Mais um ano sem desejo. Sem vontade. Sem amor, mas com muito. 

2022 não foi o ano em que me apaixonei. Mas foi o ano em que entendi que o tipo de amor que eu sei amar talvez seja puro demais pra esse mundo onde vivo. Em 2022 eu entendi que o amor (por mais que recíproco) se não couber na caixinha social, não pode ser vivido. 2022 foi mais um ano de mentiras olhando nos olhos. Foi mais um ano de engolir o desejo e de ver o desejo de outras pessoas ser engolido. Aprendizado. Não é que não sou desejada ou amada. Não posso ser. Seja porque o padrão social não permite. Seja porque falta coragem às pessoas. E tudo bem, a gente sempre pode encontrar outros amores por aí... Mas o que a gente quer viver é o que é de verdade. E mesmo entendendo, dói igual.

E não. Eu não tô falando só sobre amor romântico. Mas também. 

2022 foi o ano que eu entendi que o problema não está em mim apesar de ser em mim que ele dói (e muito). Foi o ano em que (mais uma vez) fui apontada e "maldizida" por ser real, por ser leal. 2022 foi o ano em que a saudade pegou fundo e eu parti. 2022 foi o ano em que voltei (só porque não podia ficar). Foi o ano em que eu mais desejei ir embora. Mas não fui. 2022 foi o ano em que eu não quis ir embora, mas precisei. 

2022 eu quase morri uma vez. Duas vezes. 7 pontos eu tenho na perna desde 2021. Mas... e daí? Eu sou forte. Sigo na caminhada. Parece piada pra mim. 2022 o ódio seguiu me olhando nos olhos disfarçado de "eu até gosto de você!". 

2022 foi cruelmente certeiro ao me mostrar que eu sou absolutamente capaz de perder as pessoas que mais amo por ser explosivamente sincera. E perdi (mesmo sem perder). E doeu. E dói. 

2022 foi (mais um) o ano em que deixaram de confiar plenamente em mim pela palavra alheia. 2022 foi (mais um) o ano em que não fui ao menos questionada sobre o que se decidiu sobre quem (acham que) sou.

2022 foi o ano em que minha fé foi testada e re testada, assim como meu equilíbrio e minha paciência. Aguentei. Eu cultuo Orixás e não pessoas. Decidir e agir dentro de si é muito maior que qualquer mudança externa.

2022 chega ao fim com gosto de fracasso. Mas fracasso também serve pra gente reaprender o caminho e reacender a chama. 

2022 chegou ao fim e eu desejo profundamente que, junto com ele, tudo o que me afligiu e consumiu nos últimos 3 anos vá pra muito longe. 

Nessa foto a planta tá forte e renascendo. A planta que ganhei por ser lembrada estava quase morta aquele dia. Ainda caiu no chão... Eu tive que ir. Tive que voltar. Eu não deixei ela pra trás. Eu deixei ela no lugar que tem me sido refúgio de (uma mínima) felicidade. E ali, pelas mãos cuidadosas que acolhem com verdade por mais que duras e até grosseiras as vezes, ela renasceu. 

Sou grata. Ela sou eu. Desejo. E sinto que  talvez ela só tenha renascido porque ela não precisou voltar, como eu. Pode não parecer, mas essa planta aí representa desde a verdade do que não pôde ser dita, mas que é sentida no entrelace dos olhos até o desejo de não precisar (mais) ir.

2023 tá aí batendo na porta. E eu só desejo que seja leve! E de verdades! 

4 de outubro de 2022

Entregar-me ao sagrado foi das coisas mais difíceis e bonitas que eu já vivi. Escolher entregar-se ao desconhecido é o maior ato de amor e confiança possível, ao meu ver. E pra nós, que vivemos o transe, entregar-se ao Orixá pela primeira vez é entregar nosso corpo e nossa existência à incerteza de sentimentos e sensações que só saberemos depois de viver aquilo tudo. Ainda mais sendo rombona, como somos. Imagino que, pra você que sente o transe do Orixá de outra forma, talvez (e provavelmente) a sensação deva ser outra.

Te encontrar, nessa vida, pra mim é um abismo bastante parecido. Por vezes me pergunto o que Orixá espera do nosso encontro. É sagrado, eu sei, mas por que? Pra quê? De onde vem? Daí eu me lembro de quando sentei na esteira pela primeira vez... é isso. Não tem explicação, o sagrado acontece diante de nossos olhos de forma assustadoramente mágica e poderosa e a gente não pode fazer nada a não ser aceitar e viver o que ele nos proporciona.

Como qualquer caminho humano, o do sagrado nos é também cheio de erros e acertos. Nossos e dos que nos acompanham na caminhada. E por mais que a gente às vezes pense em desistir, a gente sabe que sem ele a gente não tá inteira. 

Hoje escrevo pra celebrar contigo esse ciclo que se fecha e pra desejar muitas alegrias nesse novo que se abre.

Que seu caminho no Axé siga sendo de sabedoria e de humildade e que o Orixá possa sempre se fazer presente na vida das pessoas através de suas mãos! Admiro sua trajetória e sou muito grata por te ter em meus caminhos.

Que Oxalá te encha de paz! Oxum te cubra de amor! Xangô zele sempre pela justiça em sua vida! E que Iemanja prospere seus caminhos ainda mais e leve pra longe toda inveja que possa te alcançar! 

Você, pra mim, é família. Te amo.

27 de julho de 2022



Daylla. A menina que não sorri. É pura contradição dizer isso revelando aqui esses registros, mas... é de fato difícil arrancar um sorriso dela. Mas é que talvez a questão seja essa... 
Arrancar. Sorriso não se arranca, não se pede... Sorriso acontece. Sorriso é troca. E, porque incomoda tanto a menina que não sorri? Você já se perguntou porque a menina não sorri? Não tô falando sobre perguntar a ela. Tô falando sobre se perguntar. 

Porque ela não te sorri? Já se perguntou o quanto pode ser dolorido ser a menina que não sorri? E o quanto está constrangendo a menina ao dizer e reafirmar e perguntar e se importar que ela não sorri? Você realmente se importa? Ou só quer que ela sorria pra você se sentir melhor? 

Você já parou pra pensar que a menina que não sorri talvez seja apenas uma menina de alma transparente e que não sorri sem vontade? Já parou pra pensar que a falta de sorrisos pode carregar dores? Traumas? Já parou pra pensar nela? A menina que não sorri tem sorriso largo, quando o mundo lhe cabe. A menina que não sorri, tem sorrisos nos olhos profundos. 

Mas... você já reparou nos olhos dela? Você já parou pra olhar e pensar no quanto esses olhos carregam silêncios? Há alegria no silêncio. Há sorrisos no silêncio. E também não há. Então, escute. Respeite. E como diz o coco que a tia dela fez: "Mas deixa Dadá..." 

identificação substantivo feminino 1.ato ou efeito de identificar(-se). 

Eu já fui a menina que não sorri. Eu sou. E, sim, o não sorriso pesa. Porque não é que o sorriso não existe, ele existe, e existe com uma força tremenda até, mas quando ele não existe (e pra quem ele não existe), ele não existe. E ponto.

4 de julho de 2022


Uma vez uma mais velha me disse que tem gente que a gente consegue se conectar a ponto de enxergar a essência. Uma outra mais velha, certa vez, me falou enquanto eu perguntava sobre como eu poderia falar com as entidades que eu mesma incorporo, que se a gente olhar bem em volta, a gente encontra com elas. 

Um professor de fotografia me ensinou que a gente retrata no outro o que de profundo tem na gente ao olhar pra pessoa. Eu, menina. Eu, mulher. Retrato pra dizer de mim? Ou retrato pra revelar o que há de mim no outro? Saber é ancestralidade... então é busca, é conexão. 

Nesta foto te vejo menina e te vejo mulher. Te vejo imensa e bem pequenina. Te vejo olhando de cima e te vejo se sentando pra olhar de baixo. A humildade faz parte da alma, penso eu... é essência.

Sou grata por me permitir te ver essência. Agradeço sua existência.

6 de junho de 2022



Eu poderia falar sobre exu. Poderia falar sobre fotografia. Poderia falar sobre o fazer das mãos. Poderia falar sobre tantas coisas que esse retrato me traz. 
Ah, poderia também falar sobre retratar sem fotografar o óbvio... E vou. Vou falar sobre tudo isso. Preciso. Porque eu tô entalada. Porque eu to machucada. 

Eu preciso falar sobre lealdade. Sobre a lealdade que acredito. Sobre a lealdade de exu. Sobre a lealdade que carrego em cada passo que dou. E dói. 

Eu aprendi com a fotografia que a gente fotografa o que a gente é. Que a gente fotografa o que a gente quer dizer. E que quando retrata o outro, ficam registradas as relações. 

Eu sempre tive medo de me deixar fotografar. E, confesso, fotografar o outro me é também um desafio. Relação. Olhar o outro e buscar o belo. Mas não necessariamente o belo que eu vejo e sim o belo que o outro deseja ver de si. Talvez retratar as vezes seja mentir. 

Recuo. 

Mas eu vim aqui falar sobre lealdade. Sobre a lealdade que vejo e recebo por essas mãos. Eu vim aqui dizer da minha eterna busca pelo ser leal... aos meus. E a mim. Há dias estou tentando escrever esse texto e ele não sai. Ele só me vem à mente quando não posso anotar... seria uma auto sabotagem ou seria apenas minha busca por ser leal a mim agindo?

24 de maio de 2022




"Tudo que é feito à sombra, um dia encontra a luz." 
Quem emana luz demais, assusta. Se torna perigo pra quem vive à sombra. 

O poder do tempo talvez seja a única certeza de nossas vidas. Confiar em quem se é quando te apontam com maldade é a única escolha possível de lealdade consigo e com o outro. 

A mesma luz que ilumina, cega. Mas se não se tem luz, é possível se ver? Enxergar à luz do outro pode ser tão lindo quanto perigoso. E depender da luz do outro pode ser tão perigoso quanto deixar que sua própria luz ilumine só aos outros e te esconda. 

Na foto sem filtro, a chamada "folha da fortuna" que de uma folha se refaz em muitas e brota. Salve o poder das folhas!

4 de maio de 2022

Aprender a caminhar com quem de fato caminha ao nosso lado. 
Entender que pessoas manipuláveis podem ser tão perigosas quanto as que manipulam. 

Enxergar (por maior que seja a dor) que tem gente ao nosso lado por conveniência sim. 

Afastar-se de quem nos deseja qualquer maldade, por menor que seja. 

E principalmente fugir de quem deixa de ser, sentir e viver as próprias verdades por medo do julgamento alheio.

4 de abril de 2022

No jardim da minha casa tenho no canteiro uma trepadeira "Lágrima de Cristo". Quem conhece minha casa sabe que eu tenho um pé de boldo imenso. 
Foi uma mudinha que minha avó me deu. Se eu não presto atenção, a trepadeira vai crescendo, se pendurando, sufocando e começa a matar o boldo. Já tentei matar a trepadeira de todas as formas que conheço, até água fervendo na raiz já joguei (me julguem!) e ela não morre de jeito nenhum. Até pra minha avó eu pedi receita pra matar a planta. Foi nesse dia inclusive que descobri o nome dela e que minha avó era louca por uma mudinha. Eu dei. Mas nunca consegui matar a planta. 

Toda vez que vou podar, eu podo no talo, pra matar, tiro tudo o que vejo da trepadeira, mas depois de um tempo, lá está ela de novo. Ela vai subindo devagar e sem ninguém ver... quando percebo e se deixo de cuidar por um tempo, ela se espalha, cresce e dá uma flor linda! 

A flor é linda! Mas ela precisa sufocar e matar o boldo pra dar flor. E o que eu cultivo é o boldo. 

A natureza é didática e cirúrgica em seus ensinamentos. 

E a vida é feita de escolhas. 

O boldo sou eu. São os meus. 

 A trepadeira... deixa pra lá!

9 de março de 2022

Hoje não é 8M.

Há semanas eu estou digerindo um assunto e, confesso, pensei em escrever pra postar ontem, mas 8 de março é um dia indigesto pra mim. 
Vamos falar de BBB? Sim, eu assisto e gosto. Mas mesmo que me julgue por isso, por favor, não pare aqui. Porque na verdade nunca é só sobre o BBB... Eu não quero falar da Jade, que saiu ontem. E também não vou falar da minha preferida, a Linna (pelo menos não agora). Hoje eu quero falar da Brunna. Mas... quem é a Brunna? Teve Brunna no BBB? A Brunna, aquela... A namorada da Ludmila. 
Agora sim. Agora todos sabem quem é a Brunna. Mas... Quem foi a Brunna no BBB? A menina quieta. A que soltava frases curtas, mas sempre diretas e muitas vezes cirúrgicas. Aquela que foi chamada e tachada de planta pela edição e pelos expectadores. Aquela... a que mal existia. A que saiu só porque, por acaso caiu no paredão. 

Dizem que não fez história lá dentro... Mas será que nao fez mesmo? Ou será que a gente que não viu? Eu confesso que esperava ver mais. Ela tinha minha torcida quando eu soube que ela ia entrar. Representatividade que fala né? Mas aí ela entrou... E a gente só via a Brunna deitada, sentada, quieta... Não! Mentira. Vez ou outra ela aparecia dançando... Ali no fundo... Hora ou outra em destaque... tipo no show da Ludmila. Mas não quero falar sobre a Brunna dentro da tal casa. Quero falar dela fora. Dentre tantas coisas divulgadas na saída dela, duas me chamaram muita atenção: 

1.Numa das primeiras declarações que a Brunna deu quando saiu, ela disse "Eu estava com medo do que as pessoas pudessem achar de mim, porque certas atitudes podem refletir nela." 

2. Um vídeo que viralizou dela e Ludmila saindo de um avião particular. Na chuva um segurança aguarda com um guarda chuva, Ludmila passa reto... Ela logo atrás vem e aí sim o segurança acompanha. E a postagem diz algo do tipo "Com uma vida dessas, Brunna foi fazer o que no BBB?" 

Mas vamos olhar pro todo... Vamos olhar pra Brunna! Vamos olhar a Brunna de dentro da casa e a Brunna de fora? Horas separam as duas Brunnas. E, pasmem, a Brunna agora é um mulherão. Leve. Solta. Sorridente. Sem medo. E foi aí que comecei a me perguntar: Onde estava essa Brunna? Será que a garantia de que sua existência na casa não tinha prejudicado a imagem da namorada aqui fora era tão importante assim? E isso me pesou tanto. E tanto. Porque quem não quer ser "a de fé" ou "a preferida" de alguém, não é mesmo? Eu quero. Todo mundo quer... Daí a música é sucesso. E todo mundo acha lindo. E os casais começam a usar pra se declarar... A Brunna chora quando ouve a música... Ouço a música. Canto. A música me toca. É lindo ganhar uma música de presente. Eu sei. Já ganhei. Já fui a de fé. A preferida. E que lindo ver um casal apaixonado! Mas... E a Brunna? Quem é a Brunna? A namorada da Ludmila. Não! Não! Eu quero saber quem é a Brunna. A namorada da Ludmila eu já sei quem é. E não, eu não tô aqui pra criticar ninguém tá? E muito menos tô duvidando do amor de uma pela outra. Não mesmo. Nunca. Eu acho as duas um casal maravilhoso. São referência pra muitas meninas que amam outras meninas e precisam de referências pra existirem de forma menos dolorida nesse mundo. 

E aí me pesa. De novo. Dura e profundamente. Porque eu já fui o casal referência. Eu já fui admirada por gente que eu nem sabia que sabia da minha existência porque eu era "a de fé", "a preferida". E não to reclamando não. É bom se sentir assim. Mas... Quem é a Brunna? E aí vem tanta coisa na minha cabeça... que já nao é mais sobre a Brunna ou sobre a Ludmila, mas é. Que já não é mais sobre mim, mas é também. 

Porque vejo tanta gente sendo feliz nas redes sociais. Vejo tanta gente se amando. Mas ao mesmo tempo parece que agora eu tenho um olhar mais crítico sobre certas coisas... Porque às vezes eu olho essas mesmas postagens e penso... É tanta gente querendo mostrar que o outro é seu. É tanta gente querendo ter ou ser "a de fé", "a preferida" de alguém... E sim, precisamos nos sentir amadas e desejadas. Mas não precisamos ser troféu de ninguém pra nós sentirmos amadas. E nem precisamos de troféu pra dizer pro mundo que temos amor... 

Enfim... Sigo pensando.

11 de janeiro de 2022

A FAMOSA E TEMIDA AUTO ESTIMA


Pra mim, auto estima não é sobre Roupa. Brinco. Colar. Pulseira. Anel. Cabelo arrumado. Sobrancelha feita. Maquiagem. Filtro na foto. Closes e mais closes. Isso é escudo. Com tudo isso na frente parece até mais fácil a gente se sentir bonita... Ou não. Nunca me acostumei com esses escudos sociais. 

Pra mim "o termômetro" da auto estima é quando você deita pra dormir e se despe de tudo... Quando está suada e cansada depois de um dia cheio e se deita só pra esticar a coluna antes de tomar o banho do final do dia... Sozinha, sem platéia e sem apoio. E nessa hora, como você se sente? Essa foto foi de agora. Pra afrontar a auto estima mesmo. Exatamente nessa hora. Cansada. Sem filtro. Com a pele brilhando oleosa de fim do dia... Boa noite.

3 de julho de 2021

Sempre que preciso me lembrar quem sou e a força que tenho, eu revisito essa foto.

E eu poderia revisitar qualquer foto da minha infância, da minha avó, da minha mãe ou da minha irmã... Mas por algum motivo revisito essa.

Com toda dor que ela contém. Com todo amor que ela contém.

Olhando pra ela eu me lembro quem sou. 

Me lembro que cada lágrima que escorre, me permite reconstruir caminhos. Me lembro que o abandono não é falta de amor ao outro, mas sim falta de amor a si mesmo. Me lembro que é na lealdade que acredito e não na fidelidade. Me lembro de meus pés descalços e com frio, mas aquecidos pelo solo sagrado. Me lembro do medo. Me lembro da alegria. Me lembro da dor de quando ouvi um não profundo da boca que esperava ouvir amor. Me lembro das mãos que me acolheram. E das mesmas mãos que me soltaram quando perdi o chão.

Me lembro do dia em que perdoei mesmo sabendo que não tinha sido ouvida. Me lembro do abraço de Ogum. Do abraço de Xangô. Do abraço de Ode.  Nessa ordem. 

Viver é aprendizado contínuo. Mas é tambem cíclico e traicoeiro. Não aprendeu? Cai de novo. Até firmar bem as pernas e conseguir caminhar contra a maré ou entender que não precisa de tanta força se respeitar o fluxo... Mas que por muitas vezes vai precisar da força pra ir contra ele.

Olhando pra essa foto eu me lembro quem sou e quem não sou. Me lembro que ninguém pode me dizer quem e como sou. E que "ninguém atira pedras em árvore que não dá frutos". 

Se eu pudesse escrever uma mensagem pra Luciana criança eu diria: "Cuida da sua auto estima, menina! Cuida de você! Tua existência incomoda muita gente mas não é culpa sua. Deixa a culpa aí é vai embora sem ela!" Mas por algum motivo essa mensagem nunca chegou. 

Às vezes, retirar-se é a única forma digna de demonstrar amor. Mas às vezes é só o medo te fazendo, mais uma vez, abrir mão de um espaço que é seu. E o que é seu, é seu. Não tem quem tire. E nem se deve abrir mão... Mas isso acho que ainda não aprendi.

Voltando à foto, que alguns vão achar linda e outros um absurdo ela estar postada aqui... Eu digo sem medo: uma foto de amor e dor. De amor ao sagrado. De amor à honra. De amor ao Orixá. 

Eu poderia aqui nomear cada pessoa da foto e dizer quem são ou deixaram de ser em minha vida e marcar um ou outro, mas essa não é uma postagem pra dizer quem é quem. É sobre mim. É sobre minha história. É sobre o axé que carrego desde que nasci e sobre o axé que me confiaram quando renasci. 

Eu sei quem sou quando me sento no chão.

E história não se apaga rasgando fotos.

14 de fevereiro de 2021

O Carnaval! A tal da festa da carne...

Por aqui o ano começa no Carnaval e termina depois dele.

O Carnaval que pulsa tanto em mim desde que me conheço por gente! 

O Carnaval da infância nas escolas de samba de São Paulo... O Carnaval da herança de pai e mãe que brilha os olhos na foto mágica do casal cheio de felicidade e amor do qual sou fruto, apesar de não tê-lo conhecido... 

O Carnaval dos blocos e becos e vielas... O Carnaval dos Maracatus... O Carnaval dos sorrisos, dos afetos, dos amores...

O não ter Carnaval esse ano significa tanto pra mim!

Logo eu que sorri tanto comemorando e amando tanto em tons de roxo e amarelo nos últimos...

Um amor nascido no Carnaval. Vivido nos carnavais. Um amor de pureza. Cheio de erros, mas com tantos acertos... Amor de Carnaval, como dizem... Mas não como julgam... Um amor que de tanto brilhar se fez luz e decidiram apagar.

Um amor abençoado pelo carnaval. Eu vivi um amor abençoado pelo Carnaval! Abencoado pelo samba, pelo maracatu e pelas marchinhas! Abençoado pelo glitter! Abencoado por bandeiras e estandartes! Do inicio ao fim.

Mas assim como o Carnaval, ele se foi numa quarta feira cinza, de cinzas num triste mês de março que já foi de tantas alegrias, mas que teimou em ser de tristeza no ano que passou.

E a quarta feira se transformou em dias cinzas pra que eu aprendesse a (re)colorir a vida.


PAUSA.


Poderia ser um ano qualquer... mas minha rainha maior também escolheu ir. Ela que fazia o mês de março ser de alegrias e comemorações.

Fevereiro se aproximou e meu coração foi ficando pequeno e aflito... O impulso pulsante das alegrias dos carnavais vividos se misturando com os medos e as ausências presentes nas memórias de amor e alegrias...

E NÃO VAI TER CARNAVAL.

E pode parecer arrogância ou ego demais dessa amante do Carnaval, mas às vezes parece até o universo respeitando meu tempo... pra que a alegria possa voltar a brilhar em roxo e amarelo no meu coração.

Feliz Carnaval!

6 de setembro de 2020




Sol nas costas pra secar as lágrimas que inundam meu peito.
Dias duros de solidão.
Por detrás das grades, olho pra dentro de mim e me re-conheço. 
Recomeço minha história comigo mesma. 
Agora, enxergo através de cada gota de mar que sai de meus olhos. Me desfaço em maré cheia... me recolho... tomo fôlego como quem respira melhor debaixo d'água e sigo. 
Pra onde? Por onde? A regra agora é ficar em casa. "Mas as regras foram feitas pra serem quebra.." Não. Eu faço minhas regras. Fico em casa.
Mas... que casa? Meu corpo casa fluxo feminino está despedaçado. 
De pé na maré alta, firmo os pés na areia fofa e molhada que insiste em tentar me tragar pra baixo e recolho cada pedacinho da mulher que fui para construir a mulher que serei. Sem deixar nenhum caquinho no chão, me remonto inteira. 
Mas... e o que me foi levado? E os pedaços que me foram arrancados? Crio vãos assustadores que aos poucos se transformam em espaços que me ajudam a me manter de pé.
Pés... Me lembro que foi minha família, clã de mulheres guerreiras que me ensinou a dar os primeiros passos. Um depois do outro. Fazendo do medo meu maior aliado.
Porque logo eu que sempre fui líquida,  passei os últimos 35 anos buscando ser sólida? A solidez da sociedade patriarcal.
Será que solidão vem de solidez? Já não importa... Sigo firme e forte como a água que corre por entre as pedras sem medo de ser prisioneira.

4 de setembro de 2020

Akai Ito


 O fio vermelho do destino

"Contam os  mais velhos que um fio invisível conecta os que estão destinados... Independentemente do tempo, lugar ou circunstância… O fio pode esticar ou emaranhar-se, mas nunca irá partir.”

22 de agosto de 2020

Você quer sinceridade?

Tá se achando demais. Se achando poderosa. Se achando madura. Se achando superior. Menos, meu amor, bem menos. Se permita viver suas verdades. Se permita sentir seus sentimentos. Ta triste de ver sua hipocrisia escorrendo pelos poros. Ta triste de ver o ódio brotando de seus olhos. Você não precisa disso. Você nao precisa desses. E na verdade é exatamente porque não precisa e é tão melhor que eles, que eles te fazem sentir tão importante. Pra que se sinta protegida em todas as suas fragilidades enquanto resolve o que eles precisam. E no eles, nao leia o óbvio. Sinta. Pense. Você não é um troféu pra ser exibido numa estante. Por ninguém. NINGUÉM. Você não é trampolim de pessoas mal sucedidas profissionalmente, como elas. E no elas, não leia o óbvio. Sinta. Pense. Você saberá.

Entao te digo, ainda mais triste é te ver sendo usada por pessoas tão sem caráter. Não é uma. Não são duas. Nem três. E não infelizmente não estou falando de quem você imagina... E digo mais, eu sei que se você por um milagre lembrasse que esse lugar existe e viesse até aqui ler essas palavras mal escritas, duvidaria de tudo o que escrevo e digo, mas, sabe? Eu aprendi com o seu abandono não só por ter ido, mas pela forma que foi e por tudo que me levou (e não, eu não falo de bens materiais) e com seu ego, a confiar na minha espiritualidade. Eu sei porque estou de pé. Eu sei porque carrego a responsabilidade de ser quem sou. Hoje, mais do que nunca eu sei. E sabe? Nunca tive tanto medo e tanta certeza ao mesmo tempo. Um passo de cada vez. Firme. Devagar. Pra poder dar o primeiro passo pra fora. De cabeça erguida sempre. E nunca pela porta dos fundos ou fugindo, como fez. Eu não tenho medo de encarar de frente seja lá o que for. 

Ah, e antes que eu me esqueça. Eu nao quero dinheiro. Nunca quis. Essa nao sou eu. Minha mãe me ensinou a ser quem sou. Com cada defeito e com cada qualidade. Minha mãe a quem tando diz admirar, abriu mão de todos os bens e de tudo que construiu pela guarda das filhas. E assim me ensinou a seguir sem medo de erguer a cabeça e chorar. Porque as raizes precisam de água pra fazer brotar novas folhas nos galhos que são arrancados.

Seja feliz.

12 de agosto de 2020

Tô desde anteontem pensando sobre a morte e tentando escrever sem conseguir. Eu sempre fico elaborando na minha cabeça um tempão antes de conseguir escrever. 

Estava pensando em tudo... e me lembrei do dia em que me disse que fui uma escrota com você quando sua avó morreu. E se de fato fui, não percebi e espero que tenha perdoado minha falta de sensibilidade. Me lembro de ter me preocupado tanto... eu estava bem cansada... tinha dirigido... estrada dificil... dia cansativo... talvez tenha sido isso... nada justifica. Me lembro de falar com Cecilio, Neidinha, Adriana pedir pra ficarem atentos quando saimos do barracão... porque ela estava realmente mal... e depois mandei mensagem pra eles pedindo para estarem lá com você.  Liguei do seu telefone pra Eliane, lembra? eu morria de ciúmes mas sabia que seria importante pra você. Depois a Simone porque você tinha peça... e que alívio quando ela conseguiu desmarcar... enfim. E a primeira vez que você fez a peça depois de tudo eu fiz questão de estar lá na primeira fila. Foi tão dificil e tão lindo... Fiz o que me foi possível naquele momento e te peço desculpas se errei em alguma atitude. Espero ter sido mais cuidadosa quando seu Valdomiro se foi. Eu realmente gostava muito deles. Da sua avó e do seu "tio".

Enfim. A Tapioca morreu. Suzan me ligou chorando. Queria poder estar com ela. 

20 de julho de 2020

Solidão de quarentena


Sol nas costas pra secar as lágrimas que inundam meu peito.
Certa vez me disseram que fico bonita triste... Só eu sei o quanto me destruiu ouvir. Mas sabe? Quem dera agora você me enxergasse assim...
Eu te amo. E só nós temos a noção do que se passa dentro de nós. Duas. 
Sinto sua falta, minha vida. Todos os dias quando o dia insiste em amanhecer. 
Espero que esteja bem. Por aqui as coisas estão mais difíceis a cada dia, mas sigo firme porque nosso amor me fez quem sou hoje e nada vai mudar isso.


17 de julho de 2020

Pronto. Assinei. Fechei a porta, entrei e desabei em lágrimas profundas. 

Me roubaram a minha vida. 

16 de julho de 2020



Ya mi, dona de meus segredos e senhora de meus maiores medos. Dona do oceano que habita minha alma. Dona do meu ori, por onde a vejo e por onde me vê. Senhora dos olhos d'água, faz redemoinhos de lágrimas se tornarem mar calmo e farto. 
Ela, a mãe cujos filhos são peixes. Eu, boa filha que sou, aprendo a nadar em seus redemoinhos de tempo e sigo com as marés. Corpo fluxo feminino do grande útero do universo: a Mar. 

De um pedido na vela se fez a luz. Do olhar se fez a foto que não retrata nem uma vírgula de tudo que se fez diante dos olhos e do coração. E da memória que a luz escreveu, fizeram-se palavras que escorreram pelas mãos. 

Obrigada, Suzan. Tudo isso saiu de dentro simplesmente porque eu tentei, de alguma forma, chegar até aí.

3 de julho de 2020

Exu revela, eu confio. Xangô, meu Pai, é justo. Iemanja, minha Mãe, me mantém no prumo. Apenas agradeço. E sigo. Frágil, mas sem medo por saber que minha dignidade é meu maior tesouro.